ESCREVER SEM PENSAR NO QUÊ





Procuro respostas inacabadas a questionamentos internos que se amontoam em meio a um turbilhão infinito de emoções constantes, cortantes e apaixonantes.



quinta-feira, 27 de março de 2008

No céu



Aceitação em flashes escalonados, entorpecidas por dúvidas não mais questionáveis, que já substituem certezas interrogativas por pontos de exclamação.

Sustos que dormem e acordam sem pesadelos, mas com gritarias que disputam um colo acalentador. Muitas mãos, muitos pedidos, mas um só peito, que carrega do lado esquerdo, bem lá no fundo, um afeto que trasborda amor incondicional, mas que também anseia por um pouquinho daquilo que escorrega pelas beiradas de seu ser em um doar sem cobranças. [Afinal, também é gente que sente...]

Um circuito de imprevisibilidade absolutamente natural, que traz um kit que não pára de gritar por aquele afago que tanto defendo como salvador do mundo.

Conheço bem o dançar do sol. Ele se move devagarzinho, assim, ouvindo acordes que não o deixam parar de mexer o quadril um segundo sequer, nem mesmo quando a música se cansa... e essa volta que a vida dá e que nos leva para visitar as estrelas...

No meio dessa constelação há uma delas com mais de cinco braços, que não resiste a sorrisos pedintes e se doa por inteiro, distribuindo colo e iluminando os dias daqueles que se alimentam de sua energia e de seu amor.

É... ontem certamente meu conceito de paraíso seria outro...

TEMPESTADE

Choveu...

... sim, no paraíso também existem trovoadas e lá também é preciso de um pouco de água para regar e adubar aquilo que reclama de sede. Afinal, os arco-íris só abrolham em campos invadidos por torós que escorrem sem piedade, e chegam de mansinho, trazendo uma esponja ensaboada de sinceridade e boa vontade para lavar a alma.

Raios são abafados por um amontoado de palavras capazes de remodular uma distância que dá frio e incomoda. Cheguei perto, atravessei a ponte, e levei assim, com todas as letras, um discurso sem hipérboles que nem eu mesma sabia que poderia amarrá-lo tão bem.

Tudo fica tão mais fácil quando a verdade acompanha esses relâmpagos que surgem no meio do caminho. Tudo fica tão mais leve quando a certeza do ‘querer’ e do ‘cuidar’ vai tomando corpo assim, mesmo que bem devagarzinho, mesmo que tão depressa.

Fui embora encharcada por um alívio que me envolveu com um beijo de boa noite e com braços que me colocaram para dormir na cama ao lado, estranhamente distante, mas tão perto do calor de seus lençóis....

Aos poucos o teto do mundo vai se limpando e arrumando o terreno para mais tarde receber aqueles pontinhos brilhantes que desviam dos trovões e sassaricam por entre nuvens de algodões não mais azedas, um pouco adocicadas feito pedrinhas que desmancham na boca....

sábado, 15 de março de 2008

Viagem



O atípico falou mais alto, tão alto que me buscou lá em baixo para me levar às estrelas. Scripts perdem força quando a atmosfera bagunçada comprova o que antes permanecia ilusório e distante. Prezo tanto pelo equilíbrio, como posso estar abrindo os braços para voar nesse céu azulado com as asas quebradas com alguém que me rouba violentamente - de forma dócil e apressada -, e me leva para aquele lugar para brincar com os desenhos dessas nuvens que nos esbarram no meio de um cenário absolutamente adolescente?

É um medo de cair, mesmo sabendo que seus braços estarão estendidos aguardando um cuidar pueril. Mesmo sabendo que você vai me buscar de balão, e me mostrará as mais diferentes cores nesse mundo cinzento que é o universo visto daqui debaixo.


Um misto contraditório. Um compilado de negação e surpresa acrescido de ‘não quero mais ir embora’, com um ‘passei apenas para dar um oi’. Impossível seguir o destino racional quando o destino emocional já se incumbe de cuidar de tudo sozinho. Mas peralá, pra onde estão me levando? Assusta-me não conhecer a direção do cata-vento.

Sem nem perceber embarquei nessa viagem rumo a um desconhecido alucinante. Fiquei tonta sem sentir dor. Fiquei atordoada sem sentir o incômodo de sapato apertado, embora estivesse gritando de forma inaudível: ‘vamos parar por aqui que não tem nada a ver comigo, pois tudo isso não passa de uma ilusão criativa e desesperada por um encontro definitivo, pra sempre’. Afinal de contas, já passou da hora de brincar de casinha sem ter teto para se esconder nos dias de tempestade.


Uma luta em vão. De repente, sem nem passagem, aterrizei naquele planeta americano absolutamente brasileiro. Foi quando a troca de fluídos corporais desencadeou uma enxurrada de certezas confusas. E era tão verdade. Uma contradição menos aleatória, mais sensitiva que sabe o que está fazendo, mas mesmo assim se pergunta se é isso mesmo. E tudo aquilo que afirmei durante todos os anos que acompanham essa minha existência em constante construção, onde é que fica?

Sim, sou movida por aquele que bate aqui dentro do peito, não há sequer dúvidas disso. Mas os porquês que completam essa essência sincera que se aglomeram demais nessa massa mental que não pára, estão ávidos por um pouco de atenção. Eles sentem uma necessidade quase que vital de continuar a jornada da compreensão dos movimentos humanos em busca de um sorriso puro. Só te peço para ir com mais calma. Só um pouquinho.



Trilha Sonora (não podia ser diferente…rs): o rouquinho com cara de ’baby can I hold you’ mais fofo do circuito da música mundial – Undiscovered, de James Morrison.

I look at you, you bite your tongue
You don't know why or where I'm coming from
But in my head I'm close to you
We're in the rain still searching for the sun
You think that I want to run and hide
That I keep it all locked up inside
but I just want you to find me
I'm not lost, I'm not lost, just undiscovered
And when we're alone, we're all the same as each other
You see the look that's on my face
You might think I'm out place
I'm not lost
No no, just undiscovered
Well the time it takes to know someone
It all can change before you know it's gone
So close your eyes and feel the way I'm with you now
Believe there's nothing wrong
Nothing wrong

sexta-feira, 14 de março de 2008

(Re)encontro



Durante muito tempo resisti ao brilho desses olhos azuis reluzindo em busca de um cuidar duplo. Você nem se importava em se doar mais em um momento de reconstrução de uma barca aos pedaços que lutava para não afundar na imensidão desse mar de certezas valorizadas pela crença do ‘ser quem realmente é’. Achei tão bonito. Foi aí que baixei a guarda. A negativa escondida em um querer medroso, transformou-se em um positivo encontro de lábios aliviados pela troca fecundada tempos atrás.

Havia consciência de que aquele beco tornara-se cada vez mais apertado com o passar das horas. Em certa ocasião, estaria impossibilitada de tapar os ouvidos. Sabia disso. A qualquer momento escutaria sim aquela voz transbordando o que ontem estava esmagado por responsabilidades abstrusa, complexa. Por mais que relutasse, fui. Sentei-me diante do que sabia que poderia vir e, entre sushis e sashimis, contei-lhe as mais profundas transformações advinda de um momento decisivo, doído, maduro. Temos essa empatia segura do não-julgamento juvenil, do respeito por essências verdadeiras repletas de crenças da capacidade do construir com base no mais puro e salvador dos sentimentos: o amor.

Sabe onde você me ganhou? Foi quando a falta de ar certa vez asfixiada por um ‘não tá na hora’ traduziu-se em formato de águas salgadas inundando essa imensidão profunda do seu olhar azulado. Não escorreu, mas eu vi. Não sei se você percebeu, mas mergulhei sem bóias nesse seu discurso adentro e hoje anseio por ondas tranqüilas e contínuas que não me dêem um caldo e nem me arrastem de bunda até a areia. Que não roubem minhas forças e me impossibilitem de levantar do chão, caso o tombo aconteça, e seja dolorido.

terça-feira, 11 de março de 2008

Prisão

Necessidade de libertação. Inquietude desesperadamente improdutiva. Angústia obesa transborda a aceitação da ação vizinha, engole injustiças com canudo entupido e derruba desejo ancião de uma solidão escolhida, não imposta, sem saída. Vazio aterrorizante, encolhido. Preso livremente, solto com amarras. Procuro vozes, mas obrigo que calem a boca. Chega! Estrondos roubam serenidade pueril, nata. [Já bati a mão no azulejo azul daquela areia molhada]. Coletivo completo, barulhento. Preciso sair desse conjunto único, mas tardio e encontrar a individualidade que busca construir seu grupo, seu mundo, seu eu... e você...

Mandamento: pensar

Letras atropelam esse cérebro cansado que aprende a pensar, esses olhos marejados por um choro expulso por verdades que chegam atropelando tudo. Doeu, mas guardei todos os ensinamentos que você me trouxe assim, com aquela sua agressividade cuidadosa - coisa de mãe que pisa no acelerador, porque não suporta a perda de tempo da cria.

Repetições intermináveis que sentem dificuldades de penetrar naquele funil de entendimento que busca o amadurecer. Crescer nunca doeu tanto. Meus joelhos ainda reclamam. Antes eram os ossos que buscavam expansão em um corpo imaturo. Hoje pedragulhos e trombadas por entre passagens esburacadas carimbam cicatrizes profundas. Casquinhas que demoram para cair.

Renovação, renascimento, tudo novo... Reformas exigem tempo, dedicação de trazer só o que importa e tocar a vida adiante. O inchaço da expressão que trouxe do contato aguardado, procurado e inevitável, cobra aquele click escondido tempos atrás. Chegou a hora de trancar aquelas lembranças do ontem e debruçar em um muro de possibilidades que separa o ‘ser’ do ‘devia ter sido’.

Trilha Sonora: Chris Martin, singing ‘The Scientist’

Nobody said it was easy,
It's such a shame for us to part.
Nobody said it was easy,
No one ever said it would be this hard.
Oh take me back to the start.

Na hora certa

Fuga egocêntrica que tenta matar o sentir vitalício para substituí-lo pela racionalidade do resultado prático, seco, cinza. Uma luta de forças que judia. Anestesia e dormência que visualiza tudo, mas não age. Picada que sangra.

Movimento progressivo paralisado que não anda para frente, desce. Até aquela tortura cíclica, que só girava em torno do nada e nunca chegava a lugar nenhum, se perdeu. Opção por ir embora. Escolhas. Conseqüências.

Novo endereço sem CEP.
Não sei chegar. Não quero chegar.
Perco-me a todo instante.
Não aceito.
Não me acho.
Fujo.

Ainda não caibo nesse canto que arrumaram para mim.

Quem sou eu?
Cadê meu lugar?
Me liberte!
Corte?
Rompimento?
Ainda não.

A hora de chutar isso tudo vai chegar, pois meu corpo já está se espreguiçando e pedindo um espaço para ver o nascer da luz do novo iluminar meus dias.

É inevitável e já tinham me ensinado o quanto é necessário fechar uma porta para poder abrir uma janela. Só falta virar a maçaneta. Na hora certa, eu sei, na hora certa.

My fabulous Bon Jovi said once:

“If you feel alone, and lost and need a friend, remember every new beginning, is some beginning's end”